23/04/2007

Ser ou não ser, eis a questão

Por Mayara Evangelista

Nos tempos modernos, muito se fala em ética e em como aplicá-la. Você é ou não é um agente ético? Nos remetemos a William Shakespeare e sua celebre citação: Ser ou não ser... eis a questão. Um dilema, uma reflexão filosófica extremamente profunda. Mas afinal, o que é ética? De onde vem, para onde vai?
Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, ética é “o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal.” Etimologicamente, ética vem do grego "ethos", e tem correlação no latim "morale", com o mesmo significado que é “conduta, ou relativo aos costumes.”
Para Marilena Chauí, o sujeito ético ou moral é aquele ser consciente de si e dos outros, com consciência para reconhecer o outro como igual, é a pessoa livre que dá a si mesmo as regras de conduta e, sobretudo o ser responsável, que avalia seus atos e responde pelas conseqüências.
Acompanhando o raciocínio, se negarmos então qualquer um destes itens citados agiremos de forma violenta, não respeitando o outro. Sendo assim, colocamos a ética em oposição a violência. Violência esta que não se limita em assaltos a mão armada.
Os meios de comunicação, em geral, fazem da violência um espetáculo dando a sensação de que é um mal passageiro e não estrutural. Mais do que agressão física ou verbal o ato violento ao outro se prolifera de maneira, as vezes, imperceptível. Ela pode ser implícita, explicita ou oculta. Basta prestarmos atenção no nosso cotidiano, por exemplo, quando pegamos o ônibus “super lotado”. É ou não é um ato de violência?
Nos dias atuais falta humanização entre as pessoas. Vivemos em uma sociedade em que tudo parece normal. Há a banalização dos acontecimentos trágicos, por exemplo. A Indústria Cultural massifica diariamente a cultura, padroniza comportamentos, dita regras. A globalização nos torna cidadãos do mundo e ao mesmo tempo que não somos cidadãos de lugar nenhum. Por perdermos a referência original, não temos consciência da nossa cidadania muito menos a exercitamos.
O relógio não pára, as desigualdades sociais a estrutura num todo da sociedade impede que as pessoas reflitam. É fato, cada vez mais os jornais reduzem os textos e aumentam as imagens. Há uma alienação e acomodação das pessoas. Quantas vezes já ouvimos: Ah! Eu vivo assim porque Deus quis.
Entramos então na questão da educação, ela é muito discutida pelos “ólogos” que a defende como válvula de escape a longo prazo. Sabemos, porém que é justamente na escola que encontramos os primeiros passos para a reprodução de ideologia do sistema vigente. A chamada sociabilizarão que leva a criança a se enquadrar nos parâmetros da sociedade, fazem com que todos aqueles que fogem dela sejam ditos “rebeldes”, sendo repreendidos severamente. Mas não seriam eles os agentes éticos? Eles não se enquadrariam nos que vivem livres e fazem suas próprias regras de conduta?
A escola tem o papel fundamental na formação da cidadania. Não isentando assim a responsabilidade do Estado em garantir as necessidades básicas de sobrevivência como a saúde, importantes também para construir e garantir a cidadania. No entanto, devemos salientar a relevância do educador como agente motivador capaz de despertar em seus educandos o senso de liberdade consciente.
Como no mito da caverna de Platão, se soltar das correntes não é fácil, pior ainda viver sem as correntes meio aos acorrentados. É necessário uma estrutura sólida. Se levarmos em consideração o maniqueísmo da sociedade com relação a ética, afirmaremos como diz Chauí que ela é perversa. Isso é visto neste caso como fatalidade do presente, destino. A educação em questão como formador de seres pensantes e não como mercadoria, pode introduzir na sociedade agentes éticos, produtores e transformadores. O trabalho de formiguinha é possível. Um sonho sonhado junto, deixa de ser sonho e se torna uma realidade.


* Abril Jornalista –
Comemoração ao Dia do Jornalista.

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