07/05/2007

Se esta rua, se esta rua fosse minha...

Por Mayara Evangelista

Minhas antigas canções de crianças. Lembro-me como se fosse hoje. Cresci aqui. Essa rua faz parte da minha história, e quantas histórias. Minha rua, nossa rua, palco de inúmeras vidas. Ela presencia diariamente situações das mais inusitadas, amargas ou amorosas. Pauladas em discussão de marido e mulher ou beijos de casal de namorados. Brigas de gangues rivais, ou jogos de taco no sábado a tarde. A rua por si só é um livro-diário-histórico. Nela é registrado o avanço de uma região ou a estagnação dela. Asfaltada ou não, na rua é possível nivelar as pessoas, o mesmo espaço físico é dividido sem distinção. Aliás, muitas são as pessoas que vivem literalmente nesse espaço físico em especial durante a noite. Não é difícil vermos nas ruas de São Paulo um morador de rua, não é? Coisas da vida ou opção? Bem, essa é outra história. Numa outra oportunidade escreverei sobre os problemas sociais que assolam nossa sociedade.
Na minha rua não há trânsito, mas nem por isso deixa de ser movimentada. Rua Diego de Figueroa está escrito assim na plaquinha azul do poste. Todos os dias desço correndo para trabalhar. Na descida todo santo ajuda, o difícil mesmo é subir. Aff!!! Que subida!
Da minha janela as vezes observo o movimento, nos meus raros momentos em casa. Certa vez acompanhei uma procissão, que imagem especial, todas aquelas pessoas demonstrando sua fé em espaço público, na rua, a noite ficou iluminada com as chamas das velas, as canções tocaram a alma. Ainda na janela, vi a banda passar como diria Chico Buarque. A fanfarra da minha antiga escola. Ah, saudade. A animação estava estampada nos rostos daqueles que participavam e também de quem assistia, inclusive eu.
Sem comércio, exceto pela pequena oficina de eletroeletrônicos e de artesanatos, ambas são abrigadas em garagens nos extremos da rua, ela é cercada de prédios, concretos ao contrário do centro cinza, bem coloridos. Nada como as cores alegres da periferia.
O amor, ou não, pela rua de onde moramos nos tempos pós-modernos são expressos em páginas da web. É fácil encontrar comunidade que utilizam a rua como cenário para expressar sentimentos. Com uma rápida pesquisa no Orkut, por exemplo, mais de mil comunidades aparecem, dentre elas: "Amo mexer com o povo na rua!", "Eu sorrios pras pessoas na rua". Ou até mesmo aqueles que declaram o amor por sua rua. Uma delas possui 700 membros "Eu amo minha rua! :)" que traz depoimentos de que depois de anos descobriu a importância de rua de infância, que ficavam perto de lugares bacanas, casa do namorado, aminhos de vizinhança. Pois é, a rua é lugar comum todos nós, quem nunca passou por uma? Desde de que o mundo é mundo podemos afirmar que ela existe, com formatos diferentes, nomes diferentes mas sempre levando para algum lugar, abrigando e presenciando o infinito do oceano que são as vidas, almas das pessoas.

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