14/05/2007

Na esquina a vida se cruza com a felicidade

Por Andrelissa Ruiz

Lembro-me bem de como eram gostosas as tardes de sol e as noites calorosas de verão tomando suco congelado em saquinho (“juju”, geladinho, cada um conhece de uma forma). Lembro-me das fogueiras de inverno, do tempo imprevisível do outono que me fazia sempre andar com agasalho amarrado na cintura (recomendações da minha mãe) e do colorido da primavera que deixava tudo florido. Tudo isso são lembranças de momentos da minha rua, amigos na calçada, bolas para lá e para cá, tombos de patins! Fases da minha infância.
A rua pode ser um simples corredor no qual carros passam apressados aos seus destinos, mas pode ser palco de show, do show da vida, que não reprisa cenas e demora a mudar de cenário.
Quando senti que estava crescendo e que já podia ir sozinha a alguns lugares, foi a rua que me deu a sensação da liberdade, abri o portão de casa e ali estavam: só eu e ela. Livre para caminhar.
Bandeirinhas e tintas verdes e amarelas para tudo quanto é lado, era Copa do Mundo, a rua me trouxe mais um sentimento, o patriotismo.
Sentada na calçada numa tarde de domingo, eu esperava alguém. Olhei para o começo da rua...senti paixão.
Medo da rua eu senti quando tirei minha carta, mas mais uma vez a rua me mostrou que seu percurso, o meu destino, sou eu quem escolhe.
Essas são algumas sensações que a rua me passa.
Na maioria dos momentos da minha vida, a rua me ensinou algumas lições e sentimentos que do portão para dentro de casa, em meu castelo, super protegida, eu nunca iria sentir. Geralmente, foram bons sentimentos, mas às vezes a vida faz um caminho pelo qual não se encontra a felicidade, percebi isso. Vi, um dia pela rua, minha avó sendo levada de ambulância e a certeza que ali naquela rua eu nunca mais a veria. Vi alguns amores indo embora e alguns amigos desaparecendo.
Mas, nem por isso deixei de ver a rua como o tapete da minha ansiedade e a esquina como minha referência de esperança. Quem nunca ficou horas a olhar na esquina esperando alguém, alguma coisa ou alguma noticia?
A questão da rua é contraditória, mesmo a conhecendo há tanto tempo, sempre esperamos nela o desconhecido. Não sabemos nunca quem vai chegar pela nossa rua ou o que vai acontecer. Mas, esperamos que, independente do que seja, quando olharmos para esquina a felicidade esteja lá.
Só as ruas nos levam ao mundo, entre cruzamentos, faróis e lombadas, sabemos aonde vamos, o momento de parar e o momento de ir mais devagar. A vida é como uma longa avenida.
Minha rua é asfaltada o que me passa certa segurança, pois sei que pedras não existem no caminho que faço por ela. Minha rua tem árvores, o que me passa certo conforto, pois sei que quando precisar vou ter sombra para descansar. Mas, minha rua se cruza com três esquinas de uma vez, o que me gera certa dúvida, pois, da mesma forma que vi minha infância passar pela minha rua e não mais voltar, se eu escolher a esquina errada posso me desencontrar com a felicidade e não achar um retorno. É na esquina que a vida se cruza com a felicidade, pois é na esquina que outras vidas se cruzam. Em qual esquina encontrarei a felicidade? A minha rua vai me guiar...

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